sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Brasil ou Brazil: existe o melhor?


Lendo alguns textos e opiniões de diversos brasileiros que se mudaram para o exterior e hoje, têm duvidas sobre voltar resolvi escrever a minha opinião sobre o assunto.
               É certo que, depois que se vai embora, seu coração vive em eterna dúvida e uma melancolia saudosista.  É quase impossível não se deparar com essa questão e passar por vários momentos de reflexão com outros tantos momentos em que se tem certeza de uma coisa e logo após, mudar completamente de ideia.
               Eu sou brasileira (com muito orgulho com muito amor), mas moro fora já há alguns anos. Aos 16 anos tive a sorte (e escolha) de poder conhecer a Europa pela primeira vez. Fui para a Inglaterra, país pelo qual tenho enorme carinho e admiração. Cheguei sem pretensão. Não fazia ideia do que iria encontrar. E me surpreendi. Foi lá que vi pela primeira vez uma caixinha de moedas perto a jornais e as pessoas colocavam moedas e pegavam seu próprio jornal. Me choquei: Isso era mesmo possível? Ninguém rouba as moedas e nem os jornais? Assim começou minha romântica visão sobre a Europa.
               Voltei ao Brasil e sofri muito pra me readaptar. A vida na Inglaterra era boa, eu estudava, conhecia pessoas do mundo todo, as roupas de usar de dia eram as mesmas da noite. Nada de luxos. Nada de superficialidades. As pessoas gostavam de mim porque quem eu era e não porque era filha de fulano, morava no bairro tal, trabalha em tal lugar. Era tudo mais simples. Pra piorar, voltei com uns tantos quilos a mais, o que me fez sentir ainda pior num país onde ser magra é mais importante do que ser inteligente.
               Passei anos pensando em voltar. E sentia uma saudade do que eu ainda não tinha chegado a ver. E os anos foram passando, até que arrumei um namorado (quando já tinha perdido os quilos adquiridos) que estava seriamente pensando em se mudar pra Portugal. Eu, querendo fazer mestrado, pensei: pq não tentar esse mestrado por lá? E assim, aos trancos e barrancos c um namorado inseguro sobre o relacionamento, voltei à tão sonhada Europa.
Ah Lisboa, cidade lindíssima. Eu acho q poucas vezes na vida conheci cidade mais linda. Cheguei bem diferente de quando fui para a Inglaterra. Eu agora tinha expectativas e eram boas. Eu tinha q tentar passar na prova de seleção de um mestrado e tentar achar um emprego pra me manter por lá. Assim, pela primeira vez, descobri o que era o “subemprego”, como meus amigos gostam de classificar. Comecei a trabalhar em um restaurante onde eu não era apenas garçonete, mas tb tinha que limpar e fazer quase tudo por um salário miserável num processo claro de exploração. Eis que a visão ingênua da Europa perfeita começou a se desfazer. Comecei a conhecer a xenofobia, palavra até então que eu só escutava em notícias internacionais. Tive q mudar minhas roupas “pq uma saia mais curta e um decote um pouco mais generoso poderiam dar a ideia de que eu era prostituta”. Conheci a vida de imigrante e poucos portugueses abriram as portas para mim ou meus amigos. Vi a luta de vários amigos tentando sobreviver, isso pq éramos estudantes e por isso diminuía consideravelmente a xenofobia com a gente. Mas apesar disso, a gente saia muito, divertia mais que no Brasil, conhecia pessoas, viajava pelo mundo. Aqui isso é bem mais fácil. Mas passei por péssimos momentos com péssimos empregos e péssimas pessoas (não estou dizendo que isso não acontece no Brasil, simplesmente relato experiências pessoais). Posso dizer q o fato de ser estudante e saber q aquilo ali “vai passar” torna a vida de imigrante menos amarga do que ela é. Ser estudante na Europa é uma experiência única. Vc aprende a dar mais valor nas pessoas do que nas coisas, isso no Brasil é mais difícil. Nesse meio termo, entre o péssimo e o melhor que já vivi, fui passar férias no Brasil (ahhh como eu tinha saudades). E em um mês lindo vendo amigos, família, comendo pão de queijo e tudo q minha mãe preparava deliciosamente para o meu deleite, decidi q era hora de voltar. Que a vida de imigrante já tava cansativa e já era hora de voltar a me sentir parte. Voltei a Lisboa somente pra me organizar pra voltar e eis que o inesperado acontece: me apaixonei por um francês (sim, ainda bem, o namorado inseguro já era parte do passado). E de repente, aquela certeza de voltar ao Brasil deu lugar a um: e como seria morar na França? (aliás, a diferença entre homens brasileiros e europeus merece um capítulo (e clichês) a parte. Fica pra próxima).
Enfim, depois de um tempo fui para a França passar umas férias e eis que meu namorado me surpreende com um apartamento alugado pra eu finalmente me mudar. Nesse processo decidimos nos casar no Brasil e depois voltaríamos pra viver na França. Com alguns acontecimentos familiares, fui passar uma temporada de 6 meses no Brasil e esperar pelo casamento para que resolvêssemos os papéis e voltássemos. Só então que fui redescobrir o q era o Brasil.
Depois de + de 5 anos fora eu não fazia muita ideia do que iria encontrar pq tudo q se fala na Europa era sobre como o Brasil havia se tornado o país do momento. Voltei então e meus olhos viam as coisas de outra forma. As pessoas tem uma amabilidade quase que superficial. O ter continua sobressaindo ao ser (disparaaaado). As pessoas são bajuladoras e normalmente se divertem falando mal dos outros. Na hora de sair é aquele sufoco, pensar a roupa q vai usar, no que pode ou não fazer. Confesso que eu nunca me importei muito com a opinião alheia, mas tem hora q incomoda o “faz de conta”. Tirando que as pessoas são muito acomodadas com as coisas ruins do país. Não reclamam da violência, da corrupção, no Brasil é tudo “normal”. Meu irmão me contou que foi assaltado com a filhinha recém-nascida dele dentro do carro quase como se conta que foi comprar pão no mercado. E a gente só ouve e diz: ainda bem q nada aconteceu a vcs. Somos reféns dos bandidos e as pessoas “odeiam” política. Inteligência é pouco valorizada, amizades tem preço, vc é o que vc tem e a grande preocupação é com o corpo. Se vc tem senso crítico é chamado de polêmico, rebelde e outros adjetivos parecidos. O povo tem preguiça de pensar e ainda mais de agir. E de repente, olhei pro lado e me vi perdida no meio de conhecidos. Se sentir um estranho em terras estrangeiras é normal, mas se sentir estranha em seu próprio país é quase que bizarro. Eu só queria gritar: e agora, não pertenço a lugar nenhum mais? Passei então pelo processo de desmistificação do “Brasil é o país do futuro”. Logo depois de me isolar por vários meses, resolvi abrir as portas da cabeça e do coração e observar que ainda existem muitíssimas exceções. E comecei a ver um outro Brasil, aquele que eu tinha (e tenho) saudades. Encontrei novos amigos, reencontrei antigos, descobri gente q dá valor a tudo que é realmente importante como amizade, respeito ao próximo. Vi gente engajada na política. Amigos que tinham bons papos em bares (sem ficar falando da vida alheia). Vi muita gente boa, muita coisa legal. Fui ao Rio de Janeiro e me maravilhei novamente com aquela cidade. Tive portas abertas e corações mais abertos ainda por onde viajei com meu marido. Beijei minhas primas. Enterrei minha avó numa cerimônia quase que doce. Curti meus sobrinhos. Bati papo c meus irmãos. Descobri q tenho mais do meu tio que eu jamais pensava. Cuidei da minha mãe e curti meu pai como nunca havia. Bebi com meus amigos (os novos e os velhos). Falei besteira, vi novela, comi pão de queijo até não querer mais (mentira, sempre quero mais). E vivi muita coisa linda q me fez chorar no aeroporto.
No fim disso tudo, voltei pra França, país do meu marido. Ainda conheço pouco pra falar sobre como são os franceses, como é a vida aqui. Mas estou com o meu amor, feliz e com o coração mais que aberto pra tudo q a França tem a oferecer.
Depois disso tudo percebi que procurar o lugar perfeito é perda de tempo. Que lugar perfeito é onde a gente está. Que é o que fazemos qdo somos e estamos felizes. A Europa é linda, tem as 4 estações muito bem definidas, eu vou pro bar na garupa da bicicleta do meu marido, sem medo, tem neve e frio (muito mais do que eu gostaria), amigos queridos, é um estado laico (coisa q eu mais sinto falta no Brasil) e, tem o principal, que é o meu marido. O Brasil tem minha família, amigos da vida toda, tem sol (ai como eu amo o sol), tem praias quentinhas, tem gente feliz e chopp no fim do dia.
Enfim, independente de onde eu estiver eu vou ter o que amar e o que detestar, isso é inevitável (principalmente em pessoas q tem senso crítico). A visão romantizada de qualquer lugar é uma grande tolice pq os problemas sociais existem em TODOS os lugares. No fim das contas o que me importa não é ter coisas pra gostar, mas sim, ter sempre A QUEM amar. Tenho os pés pelo mundo e o coração também. Por isso, depois de toda essa experiência, tenho outro tipo de romantismo e só posso afirmar uma única coisa: a minha nação é qualquer lugar onde eu encontrar gente que me abrace. 

Um comentário:

Unknown disse...

Estou sem palavras..essa pessoa e mais que especial.
Que nunca lhe falte essa intensidade!!!